2021-07-10

Um Parêntesis

Hoje vou fazer um parêntesis nesta série de publicações que temos vindo a fazer sobre a quinta, suas plantas e seus animais. Posted by Picasa Certamente já se interrogaram sobre a razão de ser desta fotografia. É muito simples! Apresento-vos os meus pais, o famoso e internacional ilusionista Princ e a sua partenaire Juliette. Pois é verdade, sou filha de artistas de circo! Eram anos difíceis. Milhares de desempregados (sem subsídios), dificuldades várias e muita fome à mistura. O meu pai resolveu enveredar pela vida artística e preparou-se nesta arte. A internacionalidade dele só era verdadeira se pensarmos nos distantes ascendentes espanhóis, pois que nem sequer em Espanha tinha posto os pés. A minha mãe Julieta, alentejaníssima, só conseguia passar por francesa, com a sua tez morena e cabelo frisado, nas tournées pela província onde ainda nem se sonhava que um dia iria aparecer uma coisa chamada televisão. O convívio com as práticas do ilusionismo fez de mim uma mulher céptica que muitas vezes não acredita no que os seus olhos vêem (e muito menos no que vêem os outros), precisamente por saber que a realidade também gosta de pregar partidas, confundindo os nossos sentidos e nem sempre é facilmente visível. Eu era muito miúda e desses tempos apenas tenho curtos momentos memorizados. Lembro-me de dormirmos num palheiro numa das viagens em que o dinheiro não dava nem para uma pensão rasca. Lembro-me de ver o meu pai a passar pelo público e a tirar moedas do nariz das pessoas que ficavam boquiabertas e que logo a seguir elas mesmas se punham a apertar de novo o nariz a ver se saíam mais algumas. Lembro-me do desaparecimento da varinha mágica (muito diferente das que usamos no cozinha), uma peça importante na encenação dos números de ilusionismo e dias depois o seu regresso, atirada pela janela aberta do quarto onde dormiamos nessa noite. talvez por ter decepcionado quem a levou. Lembro-me da aflição da minha irmã ao fazer trabalhos escolares que não iria entregar por ter que mudar de escola no dia seguinte. Lembro-me da criação de rolas, pombos e coelhos, igualmente artistas até no momento em que apareciam cozinhados na mesa. Lembro-me de uma figura que mais tarde foi conhecida por professor Karma que chegou a criar o "Instituto Cosmopsicológico Professor Raul Karma" em Lisboa mas que na altura era o palhaço Raulito (as voltas que a vida dá!...). Lembro-me da azáfama da montagem do circo: os trabalhos de elevação das orcas que depois eram espiadas ao chão, o rideau em chapa envolvendo o circo e protegendo os lugares da bancada da geral. Por fim o chapiteau que era a cobertura em lona. No interior montavam os gradins que fixavam as tábuas dos lugares sentados da geral que era a zona com bilhetes mais baratos, o palanque onde iria actuar a orquestra, preparavam a pista, colocavam as cadeiras para o público mais endinheirado. Lembro-me das tardes mornas, deitada no chão de areia, vendo os trapezistas a treinar por cima de mim, quase em silêncio, ouvindo o zunir das cordas, o som surdo de mãos que agarram mãos com firmeza, a respiração mais ofegante de alguém e, de vez em quando, sobrepondo-se sobre os outros sons, as ordens curtas do trapezista mais experiente. Pequenas memórias que relampejam quando estou triste. Mas o que me ficou mais gravado e que hoje ainda me emociona, foi aquela noite em que esperava que os meus pais arrumassem o material que tinham acabado de usar e fui dar uma volta por entre as roulottes estacionadas de uma forma organizada. Uma delas tinha luz e fui espreitar. Lá dentro estava o Zéquinha Barnabé, o meu palhaço mais querido, o que só fazia disparates e malandrices levando grandes tabefes do outro e que nos fazia rir até às lágrimas. Aquele que passava por nós - pela miudagem - com um sorriso de orelha a orelha e fazia festas nas nossas caras enlevadas. Pois o Zéquinha estava sentado dentro da roulotte e de costas para a porta. Subi o degrau devagarinho e fiquei a espreitá-lo. Ele estava em frente a um espelho a olhar-se. Levou a mão à cara e tirou o nariz encarnado. Fiquei boquiaberta. Acreditam que sempre pensei que ele tinha o nariz assim mesmo? Que as pessoas eram escolhidas para palhaços precisamente por terem nascido com aqueles narizes que davam vontade de rir? Fiquei ainda mais pasmada quando ele levou a mão ao cabelo e, devagar, foi puxando pelo magnífico cabelo ruivo que se foi descolando da cabeça, exibindo uma calvície por entre o cabelo fraquinho e escuro. A seguir pegou num pano que molhou num líquido qualquer e foi passando pela cara, esborratando num esgar aquele sorriso deslumbrante que me encantava. Nesses minutos tão breves, foi entre lágrimas que vi o Zéquinha a encolher, enrolar-se e evaporar-se para sempre do meu imaginário de criança. O espanto sacudiu-me o corpo e o soalho gemeu. O Zéquinha... não, não era o Zéquinha. Aquele homem estranho virou-se para trás e ao ver-me gritou: "Fora daqui, escanzelada!! Desaparece!!!" Fugi dele a soluçar. Acabara de assistir pela primeira vez ao esfarrapar de uma ilusão. Tantas máscaras que continuei a ver cair desde então e sempre com o mesmo desgosto. Enrijeci. Hoje farejo a máscara à distância. E o curioso é que à medida que crescemos (ou que envelhecemos), deixamos de ver palhaços queridos a transformarem-se em pessoas banais, para vermos algumas pessoas que consideravamos queridas a transformarem-se em banais palhaços. Para ti José que já conheces este lamento, fica a promessa de continuar a tentar escrever esta história da qual ainda não consigo distanciar-me o suficiente para a poder contar ao teu público. Dá-me tempo! (Dedicado à minha prima Anica, uma mulher feita de paixões e de sonhos)

2017-10-20

Reflectindo sobre o incêndio de Outubro de 2017

Passados estes dias já pudemos caminhar pela nossa quinta, de máquina em punho, para registarmos os efeitos do incêndio que também nos atingiu, ainda que ligeiramente.

Não o fizemos durante a noite do incêndio porque não é possível estar a lutar contra o fogo e fazer reportagem fotográfica. Os braços são precisos e a atenção não pode estar dividida entre o melhor ângulo para fotografar e as zonas que é preciso atacar de imediato.

Há cerca de uma dezena de anos atrás e após um incêndio devastador (o segundo desde que aqui vivemos), publicámos neste blogue um texto extremamente sofrido tentando descrever o que se viu e o que se sentiu nessa altura. 

Mas nesses dois incêndios tivemos, no primeiro a ajuda dos bombeiros e populares e no segundo só a ajuda dos populares, que com uma decisão estampada nos olhos, com os rostos escondidos por panos e munidos de enxadas, machados e ramas de árvores, faziam frente àquela montanha de fogo que se erguia urrando e chispando fogo como se de um animal mitológico se tratasse.

Como citadinos que éramos e sem nunca ter estado perto de uma cena dantesca daquelas, recebemos uma lição de como os vizinhos se podem dedicar a uma ajuda extrema, correndo risco da própria vida. Ficámos tão impressionados que publicámos um agradecimento, no jornal da terra, a todos aqueles que aqui estiveram, pela impossibilidade de o fazermos pessoalmente, uma vez que ninguém se deu a conhecer. Entraram de caras tapadas para protecção do fogo e assim saíram quando já não havia perigo de maior.

A partir daí, foi nossa preocupação constante procurar formas de prevenção para a possibilidade de futuros incêndios. Por isso comprámos mangueiras idênticas às que os bombeiros usam e que no início do Verão, colocamos estrategicamente ao longo da quinta, nos locais onde temos furos de captação e bombagem de água.

Além disso, e também muito importante, contratamos pessoal para todos os anos fazer uma limpeza geral ás ervas e mato que nasce nos terrenos e, junto à vedação, também limpamos cerca de cinco metros do lado de fora da quinta nos terrenos de outros proprietários que nada limpam e que nem sequer conhecemos.

Entretanto fomos substituindo aos poucos, como forma de protecção, as arvores mais combustíveis como os eucaliptos e alguns pinheiros, por carvalhos, sobreiros e medronheiros que nascem espontaneamente por todo o lado, tendo o cuidado de periodicamente cortar os ramos baixos das arvores para aumentar a distância entre o chão e a copa.

Mas, embora preocupados com o calor que se tem sentido nesta altura, na verdade não esperávamos uma tragédia desta dimensão.

Os fogos que se viam distantes, aproximavam-se de uma forma alucinante, empurrados por um vento fortíssimo.

O medo instalou-se entre nós ao ficarmos sem electricidade e por isso sem podermos aceder á água dos furos e limitados a uma mangueira, perto da casa, ligada à água da rede.

Sabendo que os nossos filhos que estavam em Lisboa, se tinham metido nos carros para nos tentarem ajudar e estando a maior parte das estradas cortadas pelos imensos incêndios que devastavam a zona centro, ficámos numa angústia extrema por também termos ficado sem ligações telefónicas e por isso sem possibilidade de qualquer contacto.

No escuro da noite, víamos a alguma distância enormes clarões vermelhos e ficámos imobilizados à espera do que iria acontecer até que, parecendo vir do nada, uma coluna de fogo levantou-se à nossa frente estalando e chispando fogo pelas ventas.

O vento que acompanhava o fogo era de tal maneira violento que empurrava aquela tocha monumental junto à vedação, não a deixando espalhar-se para cima do nosso curral e parte social. Os vizinhos que sempre nos ajudaram, lutavam desta vez pelas suas próprias casas e até pelas vidas dos seus familiares e animais.

Não é possível descrever o que se sente quando se vê um mar de chamas em nosso redor, quando se quer ajudar os vizinhos cujos gritos lancinantes chegavam até nós meio abafados pelo fumo e o crepitar violento das chamas, a sentir  falta de oxigénio para respirar, com os olhos chorosos e meio cegos pelo fumo, correr com os pés queimados pela ausência das solas derretidas pelo chão em brasa, sentir um calor extremo que mesmo sem fogo pode incendiar o que for combustível.

E, de repente, o fogo segue noutra direcção, poupa-nos para ir devastar outra zona, outras gentes, deixando na sua passagem um rasto baixo de chamas.

Os vizinhos mais próximos conseguiram sobreviver e salvar as casas e animais.

E então começa o trabalho de rescaldo, procurando apagar as zonas que ficaram em chamas. Eu e o meu marido, sozinhos, passámos o resto da noite e toda a madrugada a carregar baldes de água das tinas que preventivamente tínhamos enchido nos meses quentes de verão, e, caminhando sobre as brasas, vertíamos aquela pouca água nas zonas mais perigosas.

Só de manhã é que os nossos filhos conseguiram chegar, ainda a tempo de, em conjunto com alguns vizinhos, controlar uma frente de incêndio que ainda se apresentava muito perigosa, por se estar a aproximar de uma zona ainda não ardida mas que depois de várias tentativas conseguiram neutralizá-la.

As fotos que tirámos hoje mostram no entanto, que uma zona limpa, caso o fogo não fique a moer com ventos que mudem a direcção constantemente, é uma boa forma para poupar as nossas árvores.

Nas fotos abaixo pode ver-se a nossa vedação, a faixa limpa por dentro e os tais cinco metros do lado de fora. É patente a diferença entre as nossas árvores e o eucaliptal queimado do vizinho.


Não somos defensores da limpeza de todas as matas (completamente impossível de concretizar).
As pessoas esquecem-se que a Natureza vive da biodiversidade e com um chão limpo não permitimos a sobrevivência de centenas de espécies animais. Por isso, temos uma zona onde não mexemos, deixando que o mato cresça à vontade e sem stress. É curioso que o fogo reconheceu esse espaço e atacou-o violentamente como mostra a foto seguinte. Mas isto não quer dizer que agora somos a favor da limpeza total das matas. Nada disso! O que defendemos é que ao criar uma zona com estas características, tem que se ter o cuidado de lhe proporcionar um fácil acesso para se poder actuar com segurança em caso de incêndio, como o caso dos corta-fogos que há anos atrás era frequente ver-se nas nossas serras com matas.


Quando visitamos vizinhos e amigos nas freguesias de Treixedo, Vila Pouca, S. Joaninho, Couto do Mosteiro e tantas outras, ficamos sem palavras. Pessoas que perderam a vida. Pessoas que estão hospitalizadas entre a vida e a morte. Pessoas que ficaram sem casa. Pessoas que ficaram sem oficinas, máquinas, tractores e alfaias agrícolas, impedidas de continuar a trabalhar. Pessoas que ficaram sem os animais que eram o seu sustento. E choramos com eles.

Que fazer agora para ajudar esta gente? Como dar a mão para se erguerem de novo?

A comunidade tem que se reunir, pensar em formas rápidas de ajuda, independentemente de esperar apoio do Governo e de instituições que têm essa responsabilidade mas que no fundo não conseguem ter a confiança da população pela inoperância visível ao longo de dezenas de anos.






2015-10-26

Entendendo as Ervas Daninhas


Como é possível já ter passado tanto tempo e não termos conseguido vir até aqui para publicar o andamento das nossas experiência, as nossas alegrias, as nossas tristezas, partilhando convosco o nosso estado de espírito.

O certo é que não viemos mesmo, mas, agora com a mudança da hora e a entrada do Outono, parece que vamos arranjar tempo para vir, de vez em quando, tentar pôr a nossa escrita em dia e consultar também os blogues dos nossos amigos, infelizmente muitos deles fechados, tal é o tempo que o facebook rouba a todos.

Mas o mais curioso é que viemos até aqui, sem assunto preparado, e por isso parámos à porta a dar voltas ao miolo...

Felizmente alguém se lembrou de um video magnífico que em poucos minutos nos fez mudar a atitude contra as ervas daninhas. E é o endereço desse video que vamos deixar aqui para todos verem e perceberem de como a Natureza é realmente fantástica em todos os seus pormenores:
 
 
Até breve

2014-07-07

Marcos, o Menino Selvagem

Há tempos fomos a Castro Laboreiro buscar a Diana, o novo e alegre elemento canino da família e pernoitámos por lá para podemos ficar à conversa com os nossos amigos. Ao serão, o tema de conversa foi os lobos e o Américo falou-nos do Marcos, que tinha conhecido pessoalmente, e que era um espanhol que teria vivido parte da sua infância, sozinho na Serra Morena e com um relacionamento estranhíssimo com os animais, principalmente com os lobos. A história era tão magnífica que decidimos trabalhar numa série de pesquisas para a contarmos aqui.

 
Marcos Rodríguez Pantoja nasceu em Andalucia numa pequena aldeia chamada Añora, perto de Córdoba no dia 7 de Junho de 1946.

Mudou-se para Madrid, juntamente com dois irmãos e com seus pais, Melchor e Araceli que procuravam trabalho.

A sua mãe acabou por falecer quando ele tinha 3 anos e seu pai juntou-se com outra mulher que tinha um filho de um casamento anterior.

Este período do pós-guerra foi muito penoso, principalmente na Espanha rural e deu origem a vidas muito difíceis e miseráveis.

Melchor entregou os seus dois filhos mais velhos para serem criados por familiares em Madrid e Barcelona, e resolveu regressar a Fuencaliente – Ciudad Real, no início dos anos 50 e dedicar-se ao fabrico de carvão.

Marcos ficou a viver com o seu pai, a madrasta e o filho desta, numa barraca feita com paus e arbustos e estava sujeito diariamente à violência dos maus tratos da parte da madrasta e do seu filho.

Nunca frequentou a escola.

A difícil situação económica levou o pai de Marcos, muito pressionado pela companheira, a dispensá-lo em 1953, a troco de algumas pesetas (como era comum na época), a um criador de cabras que o mandou levar à Sierra Morena, mais precisamente ao Valle del Silêncio para ajudar o pastor Dámian a cuidar do rebanho.

Passados alguns meses, o velho pastor saíu da gruta e não regressou mais.

Marcos passou a viver os 12 anos seguintes completamente sozinho, apenas visitado de tempos a tempos por um enviado do criador de cabras que ia buscar cabritos e lhe dava pedaços de pão como paga pelo trabalho.

Quando Marcos ficou sozinho - deveria ter uns 7 a 8 anos - começou a aproximar-se dos animais, relacionando-se com eles, tendo sido aceite por uma alcateia e mais tarde acabou por se esconder de qualquer contacto humano.

Em 1965, quando tinha cerca de 19 anos (idade para cumprir o serviço militar), foi brutalmente apanhado pela Guarda Civil, que sabia da sua existência e da sua localização pelos relatos do criador de cabras que tinha conhecimento da zona onde vivia o seu rebanho e por descrições de caçadores.

Marcos inicia assim a sua vida na sociedade de uma forma violenta.

 
O trauma da captura, o facto de ter sido arrancado ao seu meio contra sua vontade, condicionou de alguma forma a sua capacidade de integração e, acima de tudo, favoreceu o mito da boa relação que tinha com os animais no tempo que viveu na serra.

O aspecto de Marcos era surpreendente: corria com o corpo dobrado e coberto por peles de veado, o cabelo pela cintura, os pés com enormes calos por andar sempre descalço, a pele do corpo tisnada pelo sol e cheia de cicatrizes e utilizando apenas meia dúzia de palavras.

Levaram-no a casa do seu pai mas este não quis ficar com o filho e por isso levaram-no a casa de um padre onde lhe deram banho e cuidaram do seu aspecto.

O sacerdote decidiu entregá-lo a umas freiras em Madrid no Hospital de Convalecientes de la Fundación Vallejo onde viveu cerca de um ano.

A sua recuperação foi muito difícil.

Dormia debaixo da cama, talvez por ser mais parecido com a protecção de uma caverna.

Não conseguia comer na posição de sentado à mesa. A primeira vez que lhe apresentaram um prato com sopa não sabia como a comer. Olhou curioso e resolveu pôr a mão em concha, mergulhando-a no líquido que estava demasiadamente quente, fazendo-o dar um salto e caindo o prato no chão. Por isso, durante uns tempos passaram a dar-lhe a sopa com seringas para a conseguir engolir.

Usou um artefacto feito com duas tábuas para corrigir o desvio da coluna originado pelos anos em que caminhou meio dobrado.

Juan Luis Gálvez que ainda estudava para padre em Madrid decidiu ajudá-lo, ensinando-o a falar melhor.

Quando levaram Marcos pela primeira vez a uma barbearia, assustou-se ao ver o barbeiro aproximar-se com uma navalha na mão e, pensando que iria cortar-lhe a garganta, deu um grito e agarrou-se ao barbeiro, lutando com ele, sendo necessária a intervenção da Guarda Civil que o algemou, até se acalmar, ao reparar numa criança a quem lhe estavam simplesmente a cortar o cabelo

 

Andou muito tempo numa cadeira de rodas até lhe sararem os pés, depois de lhe terem cortado os enormes calos.

Obrigaram-no a fazer a primeira comunhão e também o serviço militar. Felizmente o coronel percebeu que o quartel não era local para manter uma pessoa acabada de sair duma situação como a dele e dispensou-o.
 
 
Mais tarde teve de alugar um apartamento e segundo informações de quem lá entrou, não tinha móveis e apenas mantas e folhas amarrotadas de jornais e revistas espalhadas pelo chão e era assim que dormia por achar que na cama se dormia pior.

A sua inserção na sociedade foi muito problemática, cheia de conflitos, enganos, desprezo, escárnio, maus-tratos, exploração, agressões, aproveitando o facto de Marcos desconhecer as regras da sociedade e até o valor do dinheiro.

Era uma pessoa muito frágil que vivia como um ser estranho ao mundo e à realidade social, já que na natureza tudo se cumpria de um modo rígido e de mais fácil compreensão para ele

Procurava trabalho e, quando  conseguia, era em situações precárias e muitas vezes sem receber pagamento.



Acabou por viver em condições de extrema miséria em Málaga, até que Manuel Rodriguez Barandela, um policia aposentado, o levou para sua casa em Rante, pequena aldeia pertencente ao município de São Cibrao das Viñas - Orense, onde vive até hoje.

Segundo Barandela, arrependeu-se várias vezes deste gesto, por ter sido muito difícil conviver com Marcos. Mas com o tempo, muita paciência e muito carinho, conseguiu que Marcos se tornasse mais sociável, dando origem a fortes laços de amizade entre os dois.

Barandela faleceu em Abril de 2011 com 73 anos.





Tem um piano em casa que Marcos aprendeu a tocar de ouvido.



Aposentou-se mais cedo devido a um acidente de trabalho na construção civil, mas sempre que pode dá uma ajuda no bar da aldeia, onde é considerado uma pessoa muito boa, um pouco infantil, mas um menino muito bom.



Gabriel Janer Manila, que hoje é catedrático de antropologia da Educação na Universidade das Ilhas Baleares, interessou-se por este caso e resolveu fazer a sua tese de doutoramento baseada nesta história, comparando-a com outros casos de crianças adoptadas por animais e nos problemas decorrentes da sua inserção social.
 
Mais de 30 anos depois, adaptou a sua tese a uma novela, dando-lhe o título de “He jugado con lobos”.
 Encontrou Marcos que na altura procurava trabalho na hotelaria em Palma de Mallorca e esteve com ele durante 5 meses (de 4 de Novembro de 1975 a 2 de Abril de 1976) gravando a sua história diariamente e repetidas vezes, procurando falhas no relato que indiciassem ser uma história falsa. Pelo contrário. Ficou convencido da sua autenticidade.

Quis conhecer os lugares da serra onde Marcos tinha vivido e por isso visitaram a gruta onde se abrigara,



… o rio onde brincara e pescara






... e foi com enorme entusiasmo que Marcos explicava como caçava coelhos e perdizes


 

... para que serviam as várias plantas

 

Caminhava e ia imitando os sons de diversos animais: da perdiz macho, da perdiz fêmea, dos veados, dos lobos. Com uma folha na boca imitava o  grito da águia e, de vez em quando, construía flautas com pequenos troncos e improvisava melodias simples.

Manila elaborou a sua tese mostrando as diferenças deste caso para os outros conhecidos, como o facto do seu abandono ter sido deliberado e produto de um contexto sócio-económico de pobreza extrema e da sua sobrevivência só ter sido possível devido ás destrezas básicas adquiridas antes do abandono, à aprendizagem feita com o velho pastor, à sua extraordinária inteligência natural.

Ao reflectir sobre o discurso de Marcos, percebe que a aprendizagem posterior que fez na aldeia, na cidade, no quartel, no asilo, no mundo do trabalho, a nova linguagem unida ao pensamento vão codificar a sua experiência anterior, despertando saudade por aquela vida solitária e idealizando-a como um período em que não tinha problemas e era feliz. Por isso cita Ernst Cassirer, inspirado em Bergson, que a memória humana nada mais é que uma ressurreição do passado que implica um processo construtivo e criador.



Marcos é um excelente contador de histórias e em muitas delas existe uma relação de amizade muito forte entre ele e animais da floresta como os lobos, as águias, as raposas, os ratos, as cobras, animais que o acompanharam para o proteger, que o ajudaram nos momentos difíceis, e que se sentiram felizes e lhe sorriram quando ele os ajudou também.



Segundo o antropólogo, não serão histórias inventadas mas sim enriquecidas pela imaginação de quem entende desta forma a relação entre eles, principalmente pela necessidade de se sentir querido por alguém. E terá sido esta imaginação a sua melhor arma para a sobrevivência.
 
 
 
Marcos é uma pessoa divertida, de riso fácil e consegue transformar uma história trágica numa cómica, fazendo arrancar gargalhadas.
A maneira de se movimentar e a maneira como fala, mostra como todos aqueles anos o mudaram para sempre. Por vezes fica sem saber o que dizer, ouvindo apenas uma série de ruídos. Não consegue entender os pensamentos abstractos. E, se tiver confiança com o interlocutor, dirá que não está  a perceber nada do que lhe está a dizer e que está a ouvir, só por ouvir 
 
Passados uns 25 anos, o cineasta Gerardo Olivares leu casualmente a tese de Gabriel Janer Manila e ficou obcecado com a história de Marcos. A ideia de fazer um filme não lhe saía da cabeça, mas para isso precisava de o encontrar, de falar pessoalmente com ele.

Ao fim de um ano, com a pesquisa de detectives e também com a ajuda do antropólogo, acabou por localizar Marcos em Orense e pôde finalmente conhecê-lo, ouvir as suas histórias, ver os locais onde elas tinham ocorrido.

 
O relacionamento com Marcos foi tão simples, de uma ingenuidade quase infantil que se criou entre os dois uma grande amizade que persiste ainda hoje.  
 
Para as filmagens precisaram de uma alcateia de 5 animais que vivia no Centro de la Cañada Real (Peralejo, Madrid) e foram surpreendidos pela empatia quase imediata que aconteceu entre Marcos e os lobos, em que estes o rodearam, cheiraram-no, saltaram para cima, esfregando-se no seu corpo e Marcos abraçando-os, deixando-se cair no chão com eles e beijando-os.
 
 
 
  
O biólogo do Centro, Pepe España espantado com a reacção dos lobos, principalmente por ser a primeira vez que viam Marcos, explicou depois que esta ligação entre eles, teria a ver com a posição de submissão que Marcos adoptara. Não era uma postura permissiva, mas sim de quem conhece as regras e as aceita.
 
 
 


 

Olivares convidou o actor Juan José Ballesta para o papel de Marcos e em 2010, depois de 5 anos de gravações, conseguiu estrear o filme com o título “Entrelobos”, mas não resistiu a apresentar o próprio Marcos no final do filme

https://www.youtube.com/watch?v=038b-zCAOCg

Ao fim de 60 anos, Marcos tornou a visitar Añora, sua terra natal e esteve com a sua tia Anastasia que lhe mostrou a sua casa e lhe falou da sua família, num encontro muito comovedor.




No texto abaixo deixamos o próprio Marcos contar algumas das suas histórias, pedindo desculpa por uma ou outra deficiência na tradução.
 
 

 
 
 

Marcos, por ele mesmo

"Se começo a contar histórias da minha vida, nunca mais páro. Mas agora nem preciso de falar porque o filme conta muito de mim. Lembro-me da  infância e dos espancamentos que sofria. A minha madrasta obrigava-me a roubar bolotas e tinha que encher a sacola todos os dias. Se era apanhado pela Guarda Civil, batiam-me e tiravam-me as bolotas. E, quando chegava a casa sem elas,  a madrasta  dava-me outra surra, punha-me fora da casa para que dormisse ao relento, como castigo. Ou seja, acabava sempre por apanhar sovas”
E Marcos desata a rir com fortes gargalhadas.
“Punham-me a guardar porcos e, como eu era muito pequeno, não conseguia tomar conta deles que acabavam por ir comer a cevada. Quando aparecia o filho do dono dos porcos e via o sucedido, ia buscar um cinto que tinha de molho dentro de um balde e batia-me com ele. Todos me batiam. É a lembrança que tenho da minha casa paterna. Mas perdoo ao meu pai. A vida naquele tempo era mesmo assim. Assim como lhe perdoo o facto de me ter vendido. Não sei se o fez por bem, para me livrar dos espancamentos ou se o fez por mal. 
Um dia chegou um senhor, dono de uma quinta e esteve a falar com o meu pai e ouvi-o dizer que lhe dava certo dinheiro se o deixasse me levar. Acertaram o acordo e o senhor levou-me com ele para sua casa. Mandou darem-me de comer e puseram-me um prato à frente com chouriço, toucinho, morcela, carne seca. E todos ficaram a olhar para mim. Quando anoiteceu, levaram-me de cavalo à Serra Morena, até uma gruta donde saíu um velho com barba e que tinha uns sapatos de cortiça. O senhor que me levou foi-se embora e deixou-me ali para ajudar a guardar as 300 cabras. O velho cortou um bocado de erva e pôs no chão da gruta, perto do fogo. Pôs uma pele de veado sobre o monte de erva e deu-me outra pele para me agasalhar. Não perguntava nada, nem falava comigo. Nada de nada. No dia seguinte, quando nos levantámos, chamou uma cabra e começou a ordenhá-la para um cocho de cortiça e depois deu-mo para beber enquanto enchia outro para ele. Soltámos as cabras que estavam num curral feito com estacas enfiadas na terra e fomos pelo vale com as cabras e eu sempre atrás do pastor. Pela tarde deu-me vontade de brincar e peguei num ramo e fui fazendo coisas com ele. O velho agarrou numa vara e deu-me duas vergastadas. Deixei de me aproximar. Mas como não conhecia o lugar também não me podia afastar muito.
Mais tarde disse-lhe que tinha fome e ele foi a uns penhascos que tinha buracos na terra, cortou uma pernada de uma esteva, que é uma planta que tem uma espécie de resina que se pega ás mãos. Deixou 3 ramos na ponta e foi metendo nos buracos, rodando-o lá dentro e tirando  de vez em quando para examinar o pau com atenção. Quando reparou  que o pau tinha pêlos colados, arranjou um pau maior que meteu nesse mesmo buraco e dando umas voltas, com perícia, retirou um coelho preso ao gancho que ele tinha feito. Bateu-lhe atrás das orelhas e com uma faca tirou-lhe as tripas e esfolou-o. Fez uma fogueira e quando só restavam as  brasas, enterrou o coelho nelas e fomos dar uma volta com as cabras. Cortou um ramo de medronheiro e disse-me para não comer muitos porque me podiam fazer mal.
Aprendi a contar as cabras usando duas latas: uma cheia de pedras e passava uma pedra por cada cabra, para a outra lata.
No início tinha medo do velho pastor. Mas com o tempo ficámos amigos e comecei a sentir-me muito bem. O pastor era para mim como se fosse um pai e varias vezes lhe pedi (receoso de certas noites na gruta) para nunca morrer porque estava muito feliz com ele, ao contrário de quando estava com a minha madrasta que me moía com pancada.
Mas uma noite disse-me para o esperar na gruta, onde dormíamos. Saiu e nunca mais voltou.
Fiquei sozinho e cheio de medo. Não sabia o que comer e por isso guiava-me pelos bichos. O que eles comiam, eu também comia. Os javalis comiam umas batatas que estavam enterradas e procuravam-nas farejando. Quando as estavam a desenterrar, eu atirava uma pedra e roubava as batatas.
Apanhava peixes fazendo-os entrar numa espécie de buraco que fizera no fundo do rio, atraídos pelos restos de animais mortos que metia entre as pedras.
Eu matava para comer.
Caçava veados, com a ajuda dos lobos, encurralando-os até ao rio ou ficava escondido enquanto eles desciam para beber e depois dava um salto e cortava-lhes o pescoço com uma faca. E os lobos sabiam que eu iria repartir a comida com eles. E se lhes dava de comer significava que era amigo deles. Os lobos vinham ter comigo e guardavam-me respeito. Além disso tinham medo porque eu fazia fogo. Mas davamo-nos bem. Sempre que estava em perigo e os chamava, apareciam logo.
Como a única roupa que eu tinha levado para serra, já se tinha rasgado, fiz uma samarra com peles de veado onde fiz dois buracos para poder prender com rama de trovisco e atava-a com um cinto feito também com trovisco. Usava o cabelo grande até á cintura.

Dormia com uma raposa que era a primeira a enfiar-se debaixo das minhas pernas quando havia tempestade ou chovia muito.

Uma vez cheguei a um lugar onde estavam lobos a brincar com os seus filhotes e acabei por adormecer. Quando acordei, a loba estava a rasgar carne de veado para dar às crias. Como estava cheio de fome, fiquei a olhar. A loba quando acabou de alimentar os filhotes, olhou para mim e largou um pedaço de carne. Não lhe mexi com receio de ser atacado. Mas a loba foi empurrando a carne com o focinho, na minha direcção. Peguei nele e, enquanto comia, a loba foi-se aproximando e começou a lamber-me. Nessa altura percebi que tinha sido adoptado. Depois disso, eu já era mais um da família e íamos para todo o lado juntos. Eu tinha o mesmo cheiro que eles e pouco a pouco tornei-me no chefe da alcateia

Uma outra vez peguei num lobinho e sem querer aleijei-o e a loba que estava ao meu lado, deu-me uma dentada e eu saí dali. Dias depois estava numa gruta e entrou a loba. Fui andando para o fundo, a pensar que ela me ia atacar, uma vez que já o tinha feito. Mas afinal trazia-me um pedaço de carne e ia-o aproximando de mim. Quando estava muito próxima, abracei-a.
Também tive um grupo de ratos que alimentava com leite de cabra e cuidava das águias que planavam por ali, pondo as presas nos corchos de cortiça e quando elas pousavam para apanhar a carne, eu abraçava-as e beijava-as e elas partiam muito mais felizes.
Uma vez perdi-me num bosque muito alto e não sabia como sair dali. Comecei a chorar e a uivar e os lobos apareceram e atiraram-se a mim, dando saltos e abocanhando-me os braços com a boca mas sem me aleijarem. E eu comecei a rir. Depois ensinaram-me como sair dali até á lobeira, a gruta deles e a partir dali eu já sabia o caminho.


O que é estranho é que os lobos nunca atacaram as minhas cabras, talvez por me verem com elas, não sei. E repare que os lobos são maus para as cabras.

Quando me morria uma, eu começava a uivar e vinham os lobos e comiam-na. Primeiro arrancavam um bocado aqui, no pescoço e logo a seguir atiravam-se ao bucho.
Um dia, um dos lobos queria matar um cabrito. Eu peguei num ramo com muitos espinhos e bati-lhe e ele deu um uivo e fugiu. No outro dia veio muito devagar, muito devagar a esfregar-se em mim e eu fiz-lhe festas. Depois fui a uma armadilha para apanhar perdizes. Mostrei-lhe uma e ele aproximou-se e comeu-a.
Tive uma cobra que vivia comigo. Criei-a desde pequena, fazendo-lhe um ninho com galhos e dando-lhe leite das cabras. Seguia-me para todo o lado e protegia-me. Salvou-me a vida, num dia de grande tempestade, quando me deu chicotadas com o corpo para evitar que eu me refugiasse debaixo de um sobreiro que segundos depois foi completamente destruído por um raio que lhe caiu em cima. E também me guiou até umas ervas que me curaram de uma diarreia originada por qualquer coisa que tinha comido.

 
Os javalis é que nunca foram meus amigos. É um bicho amigo se o criares desde pequenino. Mas mesmo assim é capaz de se aproveitar, quando estás a dormir, para te morder e comer… porque são uns porcos.
Apesar do frio, da fome e da solidão, fui completamente feliz. Dormia quando queria, comia quando queria.
Um dia vi um tipo num cavalo e assustei-me. Chamei os lobos mas estes também se assustaram com os tiros. Os homens correram para mim e apanharam-me. Ainda consegui morder um deles e por isso meteram um pano na minha boca e ataram-me com cordas.
Não sabia para onde ia e só queria voltar para a montanha
Levaram-me ao meu pai e não senti nada quando o vi. Apenas me perguntou pelo casaco que eu levara vestido quando saí de casa, como se ainda me pudesse servir.
O barulho da cidade assustava-me e não conseguia lidar com tanto barulho... o cheiro… os carros… as pessoas que iam para trás e para a frente como formigas. Mas pelo menos as formigas vão todas na mesma direcção. E as pessoas iam para toda a parte e eu até tinha medo de atravessar a rua.
Ensinaram-me a comer e puseram um pedaço de madeira nas minhas costas para me ajudar a caminhar direito porque eu estava todo torto por andar nas montanhas.
Compraram-me sapatos mas não os consegui calçar devido aos calos que tinha e quando mos tiraram tive que andar em cadeira de rodas
Esta nova vida era muito pior para mim do que a que tinha antes. Mas muito mais.
A lei da selva é muito simpes e entendia-me bem com ela. Mas as leis dos homens são muito complicadas e dificeis de compreender."
E com uma voz enraivecida, Marcos diz:
"Quando eu saí da montanha, o que deveriam ter feito, era mandar-me para uma escola para aprender a falar e a comportar-me. Mas fazer a primeira comunhão e o serviço militar? Aprender a atirar e a matar pessoas?
Quando fiz a primeira comunhão, perguntei às freiras:
- E isto é para quê?
E elas responderam:
- É para estar de bem com Deus. As coisas feias são pecado.
E fiquei sem perceber nada.
Também me disseram que se me deitasse com uma mulher, nasceria uma criança. Mas não acreditei.
No quartel também apanhei muita pancada mas acabaram por me mandar sair e devolveram-me às freiras que me mandaram ao dentista para me arrancar os dentes porque teimava em morder.
Ao principio tive muitos problemas. Eu era como um bicho que se solta na cidade.
Quando tinha fome entrava num bar para comer mas não sabia que era preciso pagar e por isso acabava sempre em confusão
Quando fui viver na casa do Manuel, era como se me tivesse saído a Lotaria. Fazia o que queria, o que me dava na real gana.
 

Fiquei maravilhado quando conheci Olivares. Olhei para a sua cara e vi que era uma boa pessoa e ainda por cima é de Córdoba, tal como eu.
Quando fui de novo à serra com ele, fartei-me de chorar
 
... e quando uivei e apareceram-me os lobos, quase morri de contentamento
 

 
Rebolei com eles e uma loba abocanhou-me o pescoço e até pensei que me ia morder.

Mas comecei a soprar-lhe, como quando beijas uma mulher, e a loba começou a lamber-me. Um lobo sentiu ciúmes e mostrou-me os dentes, mas eu também lhe mostrei os meus e pronto, ficámos amigos.
Fiquei contente com o filme porque foi uma maneira das pessoas começarem a acreditar em mim

Pensei muitas vezes em voltar para a floresta. Mas já estava nesta vida e vi que muitas coisas não existiam lá, como a música e as mulheres.
Só tenho pena de não saber ler nem escrever e não ter tido os meus filhos. Mas agora já estou acostumado a isto… e fico aqui"
 
E agora deixamos um endereço onde pode aceder ao filme completo chamado “Entrelobos”. A maioria dos vídeos tem o filme bloqueado. Mas aqui conseguimos visualizá-lo na íntegra, embora sem legendas… que na realidade nem são necessárias
http://es.gloria.tv/?media=339898
 Se quiser comprar o dvd pode fazê-lo por aqui:
...e não recebemos nada por esta publicidade :( 
Esperamos que tenham gostado desta incrível e quase desconhecida história.